terça-feira, 21 de abril de 2009

QUANDO É BONITO SER FEIO

Ainda estamos na praia. Hoje o tempo fechou. Até choveu. Resultado: tá todo mundo amarrando um bode. Gala tá lendo um livro – em alemão! Mel e Rari jogam video-game. Diva dorme. (Saiu com um carinha ontem e chegou 11 da manhã. Parecia que tinha dormido com um cabide na boca – tanto que sorria.) E eu tô aqui em frente à televisão. Chega a ser uma sessão masoquista assistir tevê aberta à tarde. Liguei e nem mudei de canal. Passava um daqueles programas de camelô. Explico: tem programa de televisão que parece que é gravado na 25 de março. Uma pessoa (feia) fica diante de uma banca lendo revista de fofocas sobre novelas da outra emissora. O que mais me chamou atenção foi a presença da inesquecível Flor – com uns quilos a mais. Imagine uma flor de Botticelli. Pois bem. Ela dividia a mesa com a apresentadora e um famoso quem(?) barbudo. A âncora falava sobre a mais nova sensação do youtube, a escocesa Susan Boyle. (mais de 100 milhões de acessos). O que me deixou puta foi o trio de camelôs se apegar ao lado mais superficial da história da senhora de 47 anos. É impressionante como esses apresentadores adoram buscar motivo pra dar lição de moral no povo. Os três começaram a malhar quem trata o feio com preconceito. E aí deu-se o que eu chamo de potencialização da desgraça. Susan Boyle é feia. Susan Boyle é velha. Susan Boyle é pobre. Susan Boyle é desempregada. Susan Boyle é virgem. Susan Boyle nunca beijou na boca. Puta que pariu! Como se não bastasse tanta coisa ruim, o barbudo dono da verdade tratou de colocar a cereja no bolo. Só faltava ela ser negra. Ridículo! E as duas arremataram. Gente, vamos parar de julgar as pessoas pelas roupas, condição social e beleza. O feio também é gente. Olha só o exemplo da Susan aí pra todo mundo se espelhar. Mas que merda essa mulher tá falando? Quem é ela pra dar lição de moral em alguém? Eu aposto uma teta minha se a senhora Boyle batesse na porta dela, ganharia pelo menos um pedaço de pão velho. Porra nenhuma! E tem outra coisa: você abre sua porta pra Cinderela ou pra madrasta? Ninguém gosta do que é feio. Ninguém sente-se bem com o que não lhe parece normal. É fato. Não é uma questão de consciência. É da natureza humana. Nos meus tempos de colégio de freira, eu lembro que tinha uma passagem na bíblia que Jesus aparecia de diferentes formas para os ditos fiéis… e todos o ignoravam. Por que? Não vou entrar no âmbito religioso porque cada um tem um credo. E eu respeito muito isso. Mas, minha senhora, chega de falsa modéstia. Não venha querer me dizer que a senhora não julgaria a proletária-feia-brejeira-caipira-desempregada Susan Boyle como uma qualquer, sem futuro, sem noção de onde estava – o maior show de calouros do mundo, Britain´s Got Talent. Quer falar alguma coisa que preste? Tente não ser tão superficial. Pesquise, leia, procure fontes diversas. Que nada! Esse tipo de profissional procura o que é mais fácil, óbvio e pobre. Sempre com a velha desculpa que o povo entende melhor assim. Vai se catar! Que baboseira. Depois vem com a falácia de que não se pode julgar as pessoas? E pra coroar a merda, o video da apresentação (baixado da internet) da Susan - A Feia, estava sem áudio. Hahahahahahaha!!! Cagada-mor. Eu me pergunto: é complicado demais falar sobre a música que a mulher cantou e encantou todo mundo? I Dreamed a Dream. O título já diz tudo, não? Ok. Beleza. Não vamos esperar muito de quem mal sabe falar português. A música faz parte da obra mundialmente conhecida de Victor Hugo, Les Misérables. Alguém conhece a história deste musical? A canção que Susan cantou é da personagem Fantine. Uma proletária que é demitida de uma fábrica de ladrilhos depois que descobrem que ela é mãe solteira. Desempregada, sem dinheiro e com uma filha pra criar, a mulher vende seus cabelos, os dentes da frente e acaba se prostituindo. Quer dizer, Fantine perdeu tudo (inclusive a vergonha) e deu a cara a tapa quando decidiu exercer a mais antiga das profissões. Susan Boyle encarou uma plateia gigantesca de ingleses que subestimaram a senhora de vestido cafona que andava torta sobre seus sapatos baratos. Todos riram quando ela disse que o seu sonho era ser cantora profissional. E por fim, todos desdenharam quando a mulher disse que cantaria o trecho de uma ópera. O resto da história todos conhecem. Quem ainda não viu, vale a pena. Eu fiquei arrepiada. Não por sentir pena da mulher. Não por duvidar da capacidade dela. Fiquei arrepiada com a voz daquela senhora. Fiquei emocionada com a letra da música. Fiquei com lágrimas quando milhares de pessoas levantaram para aplaudir o bichinho feio de vestido e sapatos bregas. Qual o segredo de Susan Boyle? Ser um ícone de desprezo, dó e chacota... que canta pra caralho! Você fecha os olhos e imagina uma princesa linda. Quando abre, dá de cara com a realidade desengonçada e simpática. (Veja também o exemplo de Paul Potts no mesmo youtube.) Tenho dó de quem assiste a esses programas vespertinos. Tenho pena de quem dá audiência para apresentadores tão ignorantes – que confundem ignorância com burrice pelo simples fato de desconhecerem o real significado do termo. O que eu mais gostei foi a vinheta de abertura do programa que sucedeu o trio dos camelôs. Uma musiquinha que dizia: Estou seguindo a Jesus Cristo. Nesse caso, nem Ele salva esse tipo de programa. Mas dá bem mais ibope. Hahahahahaha!!! Bia. 

2 comentários:

Unknown disse...

Luvas de pelica?? Acho que foi um belo soco no rim, isso sim! Pra que servem os programas vespertinos senão para nos fazerem rir (tamanha a imbecilidade), ou passar raiva? A falta de sol ontem tb me entediou bastante! No mais, ótimo texto.

Jander Minesso disse...

Demais. Pouta texto. Muito foda, mesmo.
Mas deixo aqui uma dúvida: a Flor, pintada pelo Botticelli, pode ser considerada uma natureza morta?